quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Entrevista: Mana-sama para a revista ROCK'N'READ edição 77

 A entrevista abaixo foi concedida por Mana-sama à revista Rock'n'Read e a tradução foi encomendada a uma amiga minha que atualmente reside no Japão. Ela comprou a revista para mim e traduziu diretamente do original. Aproveite!

ATENÇÃO: Não reproduzir sem solicitar autorização antes!




“A verdade do 26º ano”

Mana – Moi dix Mois, MALICE MIZER

Perfil & Informação
Nascido em 19 de março. Guitarista da banda MALICE MIZER, formada em 1992. Após as atividades da banda terem sido pausadas no ano de 2001, iniciou as atividades com o Moi dix Mois. No dia 8 de setembro (sábado) realizará o show “Deep Sanctuary VI – MALICE MIZER 25th Anniversary Special” na casa de shows TOYOSU PIT. Mana, Kozi (g) e Yu~ki (b) receberão no placo os três roadies da banda que se apresentarão como vocalistas, o baterista Sakura, que foi o professor de bateria de Kami, e juntos farão uma apresentação especial como MALICE MIZER Special session.

www.malice-mizer.co.jp
www.moidixmois.net

No mês de setembro em TOYOSU PIT, num evento organizado pelo Moi Dix Mois, a lendária banda MALICE MIZER fará uma apresentação especial para comemorar seus 25 anos de formação. Apesar de ser possível dizer que se trata de um revival de uma noite da banda, a verdade é que o MALICE MIZER foi formado no ano de 1992. Já se passaram 26 anos desde a formação da banda e este será o primeiro evento realizado para comemorar o aniversário do grupo durante todos esses anos. Qual seria a razão para que esse show de aniversário fosse realizado só agora? O lider da banda, Mana, nos conta toda a verdade por de trás desse acontecimento.

-Fazem 13 anos desde da última vez que você apareceu nessa revista (edição de julho de 2005). Creio que muitos leitores não saibam que o MALICE MIZER completou 25 anos desde a sua formação. O MALICE MIZER é uma banda que até hoje tem muitos seguidores apaixonados, como o Kiryuin Sho (Golden Bomber, capa dessa edição da ROCK AND READ). Você ainda costuma escutar as pessoas falando coisas como “eu gostava do MALICE MIZER” ou “o MALICE MIZER foi minha inspiração”?

Mana: Sim, escuto.

-Você fica feliz quando escuta essas coisas?

Mana: Fico feliz de verdade. Muitas pessoas próximas de mim já me falaram coisas assim antes, como os roadies que acompanharam o MALICE e que vão participar do “Deep Sanctuary IV” no dia 8 de setembro – o Ishii Shuuji (cali≠gari/GOATBED), KAMIJO (Versailles) e o Hitomi (umiyuri). Eles disseram que o MALICE MIZER tinha impactado a vida deles e que por isso queriam ser roadies da banda.

-Eu também fui impactado pelo MALICE MIZER. Há muitos anos atrás, quando eu trabalhava na editoração de uma revista de música, me colocaram como o responsável por fazer a cobertura do MALICE MIZER e eu fui assistir o último show indies de vocês no Shibuya Koukaido. Foi a primeira vez que eu vi o MALICE ao vivo e digamos que eu levei um choque muito maior do que eu esperava. Foi algo do tipo “agora eles estão voando!” e “nossa, eles estão dançando!” (risos).

Mana: A época em que o MALICE MIZER foi fundado coincidiu com a época que o gênero Visual Kei estava se estabelecendo. Mas, acho que o MALICE era mais do que uma banda exótica, estava mais para uma grande aberração, não é?

-Apesar que desde antes do MALICE MIZER já haviam artistas como o Kome Kome Club e Seikima II, que tinham visuais impactantes e perfomances chamativas.

Mana: Sim, mas eles são de um gênero diferente do MALICE MIZER, né.

- Creio que no caso do Kome Kome e Seikima II, os responsáveis pelos instrumentos sempre ficavam focados apenas em tocar até o fim do apresentação. Uma banda em que os guitarristas ficavam sem tocar para poder dançar provavelmente foi algo inédito (risos). O MALICE foi fundado por você e pelo Kozi, mas qual era a ideia original de vocês quando vocês decidiram criar a banda?

Mana: Na época, a base do cenário visual kei já tinha começado a ficar definida, mas nós queríamos fazer algo diferente das outras bandas. Como eu e o Kozi seríamos os guitarristas, eu pensei se havia algum modo de tentar reproduzir o som do cravo na guitarra, já que eu sempre gostei de música clássica. Eu conversei com o Kozi sobre essa minha ideia e nós decidimos então criar um efeito de som que fosse parecido com o de dois cravos sendo tocado juntos. Para obter isso, nós não podiamos fazer bend na guitarra, nem usar outras técnicas típicas para tocar rock e tocávamos as nossas guitarras cada qual em monotom, tentando mesclar os sons de um jeito mais complexo.

-Seu pai era professor de música e desde pequeno você já gostava de música clássica, não é?

Mana: Sim. Na minha casa só tocava música clássica. Não sei se por influência disso, eu passei a gostar de música de igreja, aquelas músicas que tocam em missas. Por essa razão eu também tive a ideia de colocar nas nossas músicas o som que o órgão de tubos faz.

-Para uma banda de rock, esse tipo de composição é bastante original.

Mana: Para obter o som o mais próximo do que eu queria, nós usávamos um sintetizador de guitarra. Naquela época já havia sintetizadores de guitarra e algumas bandas já se arriscavam de vez em quando com esse tipo de apetrecho. Não existia wireless e nós tinhamos que ligar a guitarra e o sintetizador através de cabos, então ainda era um acessório em desenvolvimento. Geralmente, todo guitarrista quer andar e correr livremente pelo palco, mas com o sintetizador de guitarra nós não tinhamos essa liberdade. Eu não gostava de não poder andar livremente, mas somente desse jeito eu conseguia obter o som que eu queria. Além disso, nós tinhamos várias restrições na parte sonora também. O sintetizador captava o som que nós tocávamos na guitarra com atraso, então nós tinhamos que tocar a nota mais rápido para que houvesse tempo do sintetizador fazer a conversão e o ritmo da música não ser alterado. Como músico, era uma situação bastante complicada.

-Naquela época ainda não havia muitas bandas que usavam sintetizadores de guitarra de forma generalizada como vocês. De onde surgiu a ideia de usar esse tipo de acessório?

Mana: Naquela época nós não ouviamos falar sobre inserir sons digitalmente como agora. Eu só queria uma maneira de poder reproduzir o som do cravo e do órgão de tubos e um dia acabei descobrindo que era possível fazer isso usando um sintetizador de guitarra.

-Quando a banda foi formada em 1992, o uso da internet não era tão difundido como agora. Como você ficou sabendo, naquele tempo, sobre o sintetizador de guitarra?

Mana: Naquele tempo eu lia revistas de música loucamente. As que eu lia do começo ao fim como se fosse uma biblia eram a “FOOL'S MATE” e a “Rockin'f”, mas eu também lia outras como a “Young Guitar” e ficava sempre de olho nos anúncios das marcas de guitarra que apareciam nessas revistas. Foi olhando esses anúncios que eu descobri o sintetizador de guitarra. Quando eu comprei um e finalmente consegui reproduzir o som do órgão de tubos e do violino na guitarra, eu fiquei emocionado. O som saia com atraso e era necessário conectar tudo com cabos, então havia muitos inconvenientes, mas eu acabei optando por usar o sintetizador de guitarra mesmo assim.

-Naquele tempo não se ouvia falar muito sobre inserir sons digitalmente, mas já havia bons sintetizadores em forma de teclado. Por que você não optou por usar um teclado ao invés do sintetizador de guitarra?

Mana: Isso é a parte complicada. Eu cismei que numa banda de rock não poderia haver teclado ou ela não seria uma banda de rock de verdade. Apesar de eu ter decidido que nós não iamos tocar as nossas guitarras do jeito convencional, eu ainda assim sentia que o MALICE MIZER era uma banda de rock. De certa maneira, era uma contradição (sorriso amarelo). No Japão e mesmo no exterior há muitas bandas que optam por sintetizadores e teclados, mas isso nunca foi uma opção para mim.

-E quanto ao planejamento do palco? Quando eu assisti vocês pela primeira vez no Shibuya Koukaido, vocês já tinham condições de elaborar cenários e efeitos especiais. Em qual momento da criação da banda vocês optaram por roupas e ambientação no estilo europeu?

Mana: Desde o começo da banda nós já tinhamos decidido pela europa da idade média como ambientação. Com base nisso, nós decidimos elaborar não somente as músicas, mas também as nossas roupas com o objetivo de que elas contassem uma história. Bastava que nós tocassemos de acordo com essa história para que as pessoas pudessem enxergar melhor o mundo que nós queriamos representar. Eu pensava que ao invés de simplesmente só tocar, seria mais interessante fazer uma perfomance com um aspecto teatral para que quem estivesse assistindo pudesse imaginar na sua cabeça a história que queriamos contar. Por isso eu decidi desde o começo colocar diversos elementos teatrais nas perfomances.

-Ouvi falar que vocês chegaram a receber diversas reclamações das casas de show por terem usado elementos do teatro em suas perfomances...

Mana: Sim, porque nós usávamos sangue artificial, glitter dourado e outras coisas que acabavam se espalhando no chão. Se eu não me engano, uma vez recebemos uma reclamação porque o sangue artifical acabou caindo nas pessoas da plateia. Outra vez, foi porque algumas pessoas que estavam assistindo o show não conseguiram tirar o glitter dourado que caiu no rosto delas. Toda vez que nós faziamos um show, sempre dava algum problema. Mas mesmo assim, nós sempre limpávamos com cuidado todas as vezes. Quando usávamos sangue artificial, por exemplo, sempre colocávamos uma lona no palco. Quando iamos fazer show em conjunto com outras bandas, nós também sempre imploravámos para ser os primeiros a tocar (risos). Geralmente as pessoas não querem ser os primeiros artistas a apresentarem nesse tipo de show porque a primeira banda sempre toca muito cedo e ainda não tem público suficiente na casa de show. Mas como a nossa banda sempre valorizou a imagem que nós tinhamos para representar, nós usávamos o horário de abertura para ter tempo de decorar o palco.

-Vocês realmente fizeram muitas coisas. Mas quando vocês ainda tinham que se apresentar em shows com outras bandas, creio que vocês provavelmente não tinham muito dinheiro... Não foi difícil para vocês conseguir fazer roupas e acessórios de palco nessa época?

Mana: Tudo aquilo que nós podíamos fazer por conta própria, nós fazíamos. O Yu~ki-chan fez o próprio caixão que ele usava nas apresentações. Ele cortou e parafusou alguns painéis de madeira para construir o caixão. Fizemos uma música estilo industrial chamada “N.p.s N.g.s” e nela o Kami tocava em alguns tubos de metal soldados. Se eu não me engano, os tubos de metal soldados foram feitos por alguém da família do Kami, que sabia fazer esse tipo de trabalho. Durante o inverno, mesmo fazendo um frio terrível, nós íamos para o parque fazer os acessórios maiores que usávamos (risos). Ademais, nós mesmos transportávamos tudo, então além do carro para levar os integrantes para o local de show, nós tinhamos mais um carro só para levar os acessórios. Desde o começo da banda, nós viajávamos o país todo com dois carros para poder carregar tudo.

-Dois carros! Não foi caro comprar e manter esses dois carros?

Mana: Obviamente nós não tinhamos esse dinheiro, então um conhecido do Kami nos deu o carro velho dele para podermos transportar os acessórios de palco. Eu fui até Ibaraki-ken (terra natal de Kami) para poder receber o carro, mas quando abri a janela dele... Tinha um fedor horrível. Quando fui olhar dentro do carro, lá tinha uma carcaça podre que devia ser de algum bicho. De quebra o ar condicionado estava quebrado, então no verão era uma tortura viajar dentro do carro. Não importa o quanto limpássemos, não conseguiamos tirar o cheiro de podre de dentro dele e de quebra fazia um calor terrível. Era horrível. O TETSU (primeiro vocalista da banda, atualmente no ZIGZO) tinha dito que não queria usar ar condicionado por causa da garganta dele, então ele viajava no carro dos acessórios. Quando estávamos com os dois carros na estrada e parávamos um do lado do outro durante um sinal vermelho, podíamos ver como estava dentro do carro de acessórios. O TETSU e o nosso roadie que viajava com ele e que era responsável por dirigir o veículo estavam sempre encharcados de suor. Pensar que nós fazíamos turnês pelo país naquele estado é uma memória inesquecível (sorriso amarelo).

-Creio que para bandas indies que têm orçamento reduzido, esse tipo de experiência seja comum... Mas quando penso na imagem elegante de palco que vocês tinham, é supreendente saber que vocês também passaram por isso.

Mana: Os grandes acessórios de palco que nós tinhamos feito não cabia dentro da minha casa, então eu deixava eles do lado de fora do meu apartamento mesmo sem autorização (sorriso amarelo). Não tinha me passado pela cabeça que nós poderíamos ter alugado um galpão para guardar os acessórios. Uma vez eu tentei esconder no estacionamento de maneira que ninguém descobrisse as colunas do Partenon que nós usávamos nas apresentações. O zelador sabia que eu tocava numa banda, então acho que ele sabia quem tinha feito aquilo. Mas mesmo assim, ele nunca brigou comigo. Quando eu penso nisso agora, vejo o quanto dei trabalho pro zelador do prédio. Zelador, sei que já faz tempo, mas eu queria pedir desculpas (sorriso amarelo).

-Acho que é meio impossível você esconder as colunas do Paternon sem que ninguém descobrisse (risos). Mas vejo que vocês passaram por todos esses apertos para poder proteger e manter a visão de mundo e perfomance que o MALICE MIZER queria transmitir. De onde surgiu a ideia de criar essa visão de mundo e estilo performático?

Mana: Na época do nosso primeiro vocalista, o TETSU, eu e o Kozi ainda tocávamos nossas guitarras normalmente. Mas depois de algum tempo, eu comecei a pensar que numa banda como MALICE MIZER, nós poderiamos fazer mais do que simplesmente tocar guitarra. Além do mais, quando estávamos com as guitarras, nossa capacidade de se locomover no palco era reduzida. Então, apesar de ser algo inaceitável para uma banda de rock, nós começamos a conversar sobre criar uma música em que pudessemos dançar ao invés de tocar. Nessa mesma época, eu comecei a descobrir como reproduzir o som de uma orquestra nos instrumentos. Mas as ideias sobre música do TETSU começaram a não bater muito com as nossas ideias. O TETSU tinha dito que o MALICE MIZER parecia interessante e por isso entrou para a banda, mas depois de dois anos se apresentando com a gente, imagino que ele tenha percebido que o tipo de música que ele queria criar não era compatível com a ideia da banda. Creio que se as pessoas escutarem as músicas que o TETSU fez após o MALICE MIZER, elas entenderão que ele só saiu da banda porque a direção musical que ele queria seguir era simplesmente diferente da nossa.

-Os outros integrantes da banda não tinham nenhuma reserva quanto à direção musical que você queria seguir?

Mana: O Kozi é o tipo de pessoa que se algo parece divertido, ele quer fazer, então ele não teve muitas reservas quanto às minhas ideias. O Yu~ki-chan disse que não estava interessado na parte de dança, mas que a parte teatral ele gostaria de fazer. Quanto ao Kami, apesar que ele era o tipo de pessoa que gostava de novos desafios, imagino que ele teve algumas dificuldades pelo fato dele tocar bateria. Até porque passamos a criar muitas músicas que não precisavam de um baterista. Mas no fim das contas, todos nós concordávamos que deviamos tentar fazer coisas interessantes. E como nós decidimos que nós deveriamos fazer tudo aquilo que nós achassémos que conseguiriamos, eu e o Kozi passamos a acordar às 5 da manhã para ir treinar dança no parque.

-Vocês eram uma banda, mas iam treinar dança! (risos)

Mana: Nesse parque tinha um prédio com janelas de vidro que refletiam a imagem de corpo todo de quem estivesse perto, então havia muitas pessoas que iam até lá para praticar dança. Eu e o Kozi íamos até esse local, carregando um rádio e fitas cassetes, e ficávamos dançando enquanto observavamos nossa imagem refletida nas janelas de vidro. Eu originalmente queria ter entrado pros Johnnys, então eu nunca tive problema com dança ou teatro. Muito pelo contrário, eu queria fazer ambos.

-O quê!?? Johnnys!?

Mana: Quando eu era estudante do chugakko e ainda não tinha conhecido o rock, eu almejava ser como eles. Naquela época as danças dos Johnnys eram bem mais agressivas, então eu treinava todos os dias como dar saltos mortais e cambalhotas.

*Nota de tradução: Chugakko são os três anos do ensino fundamental antes de entrar para o ensino médio no Japão. No Brasil corresponderia da sétima a nona série.

-Jamais imaginaria isso...

Mana: MALICE MIZER tinha uma imagem muito literária, então acho que muitas pessoas imaginam que eu seja do tipo de pessoa que passa horas lendo livros com uma expressão séria. Na verdade, na minha infância, eu era o tipo de garoto que gostava de esportes e era bem ativo. Por isso, foi muito fácil parar mim incorporar perfomances com dança no MALICE MIZER. Eu pensava que colocando dança no MALICE MIZER, eu poderia aproveitar tudo aquilo que eu tinha praticado durante o meu tempo de estudante no chugakko.

-Como você mesmo disse, as suas ideias eram realmente estranhas e até mesmo bizarras para uma banda de rock. Mas mesmo assim, vocês foram mobilizando cada vez mais público a ponto de conseguirem realizar um último show antes da estreia major no Shibuya Koukaido. Isso me leva a crer que havia um grande número de pessoas que ao assistirem o MALICE MIZER pela primeira vez, acabavam virando fãs e passavam a acompanhar a banda.

Mana: No começo, quando nós tocávamos em shows com outras bandas, sempre ficava um clima esquisito no ar. Isso porque não havia nenhuma outra banda que dançava e fazia perfomances ao invés de tocar instrumentos, então a reação do público era geralmente de “O que essas pessoas estão fazendo no palco!? Não acredito!”. Ninguém estava preparado para o tipo de apresentação que faziamos, então muitos riam da gente. Por isso, eu não sei ao certo quantas pessoas viravam fãs a ponto de assistir nossas apresentações várias vezes, mas mesmo quando a gente era recebido com risadas, nós sempre nos apresentávamos com afinco. Para nós não era brincadeira, nós realmente queriamos representar através das nossas perfomances o mundo da europa medieval. Acredito que provavelmente pelo fato de não haverem outras bandas que faziam esse tipo de coisa, de pouco em pouco as pessoas começaram a se interessar pelo nosso jeito. Depois que o TETSU saiu do MALICE MIZER e o Gackt entrou como vocalista, o primeiro show que nós fizemos sem outras bandas foi no On Air West (atualmente O-WEST).

-Depois de 3 anos de banda, vocês conseguiram tocar no WEST. Dois anos depois, vocês tocaram no Shibuya Koukaido. E depois disso, vocês ainda fizeram shows em lugares ainda maiores como o Nippon Budokan e o Yokohama Arena. Também surgiram muitas bandas que respeitavam o MALICE MIZER e tentavam fazer algo parecido, mas no fim nenhuma delas conseguiu superar vocês...

Mana: Bem, se as outras bandas nos superassem, seria um problema (risos). Mas a minha ideia era transformar o MALICE MIZER na forma suprema do estilo Visual Kei. Acho que o modo mais fácil de entender esse conceito do MALICE MIZER é olhar a época que nós viramos uma banda major. Quando uma banda de visual kei vira major, a maioria delas cede às pressões da gravadora e acaba aos poucos se tornando uma banda de rock com um estilo comum. Mas eu era totalmente contra isso. Muito pelo contrário, eu pensava que já que viramos major, nós tinhamos que ser ainda mais chamativos do que antes.

-Falando nisso, no single de estreia major de vocês, vocês foram para a França e gravaram o PV e tiraram fotos promocionais nos castelos franceses, não foi?

Mana: Na época que a gente estava para se tornar major, nós conversamos com diversas gravadoras, mas somente a Nihon Columbia disse “vocês podem fazer do jeito que vocês quiserem”. As outras gravadoras acabavam fazendo exigiências como “vocês tem que diminuir a maquiagem” e etc.

-Mas se vocês cedessem às exigências dessas outras gravadoras, vocês não seriam mais o MALICE MIZER.

Mana: Naquela época provavelmente não havia muitas histórias de sucesso de bandas com maquiagem forte e roupas chamativas que conseguiam vender bem após virarem major. Eu não tinha pretensão de acabar com aquilo que eu estava fazendo com a banda, mas eu também entendo porque as gravadoras major fazem esse tipo de exigência. No fim das contas, ao contrário das bandas indies, que vivem num mundo bem estreito, quando se é major é necessário fazer com que a sua música alcance um público mais geral. Mas eu não acreditava que o MALICE MIZER fosse vender caso se tornasse uma banda de rock comum.

-Então foi por isso que você decidiu fazer com que o MALICE MIZER ficasse ainda mais chamativo após viram major.

Mana: Se nós virassemos major, nós teriamos condições de fazer shows e apresentações ainda maiores. E eu acreditava que com isso, nós conseguiramos fazer o MALICE MIZER ter sucesso e transformariamos ele em algo ainda maior do que uma simples banda – nós seriamos uma espécie de grupo artístico absoluto.

-E de onde você tirou essa confiança?

Mana: Sei que talvez não convenha eu falar isso, mas, primeiro, por causa da nossa qualidade musical. Não importa o quão bem você se apresente, se a música não for boa você não terá sucesso. A base de uma banda tem que ser o seu conceito e a sua qualidade musical. Muitas pessoas acham que o MALICE MIZER valorizava primeiro a parte visual, mas nós tinhamos uma conciência bem forte de que tinhamos que elaborar muito bem as nossas músicas. Quando o TETSU ainda era vocal e nós lançamos o “memoire”, nós tinhamos como regra absoluta que nossas músicas deveriam ser as mais bem feitas possíveis.

-E para você, o que seria uma “música boa”?

Mana: Meu único objetivo é criar músicas excelentes, então eu não tenho uma teoria fixa. Eu joguei fora as bases musicais do rock e, apesar de existir teorias de como compor uma música para que ela seja mais vendável, eu também nunca pensei muito nessas coisas. Eu não sei escrever partituras nem entendo muito bem de acordes. Quando eu vou compor uma música, eu apenas vou buscando no teclado o som que eu escutei no ouvido. Como todas as minhas músicas são feita com base nos meus sentidos, muitas vezes eu escuto dos profissionais que fazem mixagem que as minhas músicas tem uma progressão incomum. Eu componho música com base na história que eu quero contar. Às vezes eu penso que talvez eu tenha sido influenciado pelas músicas clássicas que sempre tocavam na minha casa. Eu não ligava muito para música clássica quando era criança, mas é como se eu tivesse me habituado naturalmente à todos aqueles sons entrelaçados das orquestras. Talvez seja por isso que quando eu comecei a compôr, eu naturalmente acabei criando músicas voltadas para esse estilo. Além disso, eu sempre busquei inspiração em estilos musicais que você não escuta em bandas de rock, como o pop francês e a bossa nova. O tipo de som que eu sempre busquei criar é algo que fosse ao mesmo tempo bonito, triste, exuberante e elegante.

-E o MALICE MIZER que você tinha certeza que ia dar certo, acabou pegando a onda de sucesso inédita que o estilo Visual Kei teve no fim dos anos 90 e realmente vendeu bem. Vocês foram chamados de os “deuses do Visual Kei” junto com mais três bandas e foram convidados para participar não só de programas de música, como também de shows de variedade da TV.

Mana: Ah, realmente teve esse negócio de “os deuses do Visual Kei”, não é? Mas esse foi um título que criaram para a gente na época e eu mesmo nunca liguei muito para isso. Acho que algumas pessoas da época vão ficar bravas com o que eu vou dizer (risos), mas para mim o MALICE MIZER sempre esteve numa categoria à parte, separado das outras bandas. Não é que eu odiava os outros grupos ou coisa assim, mas acho que é mais certo dizer que nós simplesmente éramos muito diferentes.

*Nota de tradução: Aparentemente a mídia japonesa chamava o MALICE MIZER, o SHAZNA, o La'cryma Christy e o FANATIC◇CRISIS de “os quatros deuses do Visual Kei” no fim dos anos 90.

-É porque naquela época o Visual Kei saiu do mundo fechado em que estava e virou uma febre geral. Acredito que por causa disso, a mídia japonesa tentava agrupar as bandas de maneira simplificada para tentar expandir o gênero ainda mais. Como você se sentiu em relação a essa popularidade inesperada?

Mana: Eu sinto que a febre do Visual Kei não foi algo que surgiu naturalmente, mas sim foi algo que nós mesmos criamos. Uma das coisas que eu queria fazer na época, mas que hoje em dia já é banal, era juntar o mundo do 2D dos animes com a música. Até então, anime e música eram dois gêneros completamente diferentes e os fãs não costumavam se misturar. Mas como o MALICE MIZER era uma banda que parecia ter saido diretamente do mundo dos animes, as pessoas que eram fãs disso acabaram entrando de cabeça na onda do Visual Kei.

-Ah, você acabou de me descrever, sou otaku de anime e mangá. (risos)

Mana: Bem, eu também gosto de animes, então no fundo eu almejava que outros fãs de animes passasem a nos ouvir. (risos)

-Vocês seriam na época o que hoje em dia a gente chama de 2.5D, não é? Talvez as pessoas achem que eu esteja procurando um motivo qualquer para justificar a trajetória do MALICE MIZER, mas depois de ouvir você contar sobre como tudo aconteceu, eu só consigo pensar que você teve uma capacidade expecional de enxergar adiante. Porque tudo aquilo que você pensou e realizou na época, hoje em dia se tornou algo comum.

Mana: Eu só queria representar fielmente o mundo que eu havia criado, então não é como se eu estivesse pensando seriamente no que aconteceria no futuro como um criador ou coisa assim... Se bem que não dá para dizer que eu não sou um criador também...

*Nota de tradução: No Japão, eles chamam de 2.5D uma adaptação em 3D de uma obra originalmente 2D (como peças de teatros e musicais de animes ou jogos).

-Mas, você não tinha nenhuma meta a bater quando criou os conceitos e ideias por de trás da banda?

Mana: Hm, como eu posso explicar... No caso do MALICE, acho que eu tinha alguns objetivos que eu queria alcançar. Como eu disse anteriormente, eu queria fazer um mix entre música e anime, incorporar elementos da moda na banda e fazer coisas que ninguém havia feito antes. Será que dá para dizer que isso é uma “meta a ser batida” também?

-Creio que sim, mas geralmente as “metas” dos criadores que existem por aí envolvem criar conteúdo que seja vendável ou que impulsione uma nova febre.

Mana: Se for nesse sentido, então creio que não seja esse o meu caso. A minha ideia era criar um novo tipo de cultura.

-Numa época em que a moda gótica ainda não era popular, você criou a sua própria marca do gênero, a “Moi-meme-Moitie” Eu realmente sinto que você criou uma nova época.

Mana: É verdade. Eu queria criar uma cultura que ninguém havia visto ainda. Por isso eu prôpus uma fusão entre a moda gótica e a moda lolita, que seria o “elegant gothic lolita”.

-A sua marca também não foi algo que você criou do dia para a noite. Assim como o MALICE MIZER que esse ano completa 25 anos... Vocês vão fazer um evento comemorativo em setembro?

Mana: Para ser mais exato, na verdade a banda fez 25 anos no ano passado. (risos)

-Em 2001, um ano antes da banda completar 10 anos de existência, as atividades do MALICE MIZER foram paralizadas. Desde então vocês não fizeram nenhum evento comemorativo?

Mana: Sim, não fizemos nada nem no aniversário de 10 anos, nem no de 20 anos. Acho que por isso alguns devem estar pensando “por que é que vocês decidiram agora comemorar o aniversário de 25 anos!?” (risos).

-Qual foi o motivo pelo qual vocês decidiram fazer uma cerimônia de comemoração aos 25 anos?

Mana: Eu não sei até que ponto eu posso falar... Então eu vou explicar o que eu puder. Creio que se eu não explicar nem que seja um pouco, muitos não vão entender porque decidimos fazer uma comemoração de 25 anos tão repentina. Para falar a verdade, isso é algo que eu nunca contei antes, mas... Na época do aniversário de 20 anos da banda, eu decidi fazer algo.

-No aniversário de 20 anos, ou seja, no ano de 2012.

Mana: Exato. Isso foi há 6 anos atrás. Na época que o MALICE paralisou suas atividades, eu não conseguia me conformar com certas coisas. Creio que tenha sido o mesmo para os fãs. Voltando um pouco mais atrás, antes da gente paralisar as atividades da banda, no ano de 1998, viramos manchete porque o Gackt desapareceu e depois decidiu sair do grupo. Acho que por causa de todo aquele holofote, os fãs da banda acabaram ficando durante muito tempo sem saber o que era verdade e o que era mentira. Quando o MALICE estava para fazer 20 anos de existência, eu senti vontade de esclarecer toda essa situação.

-Na época do incidente do Gackt, não houve qualquer comentário vindo do MALICE MIZER para esclarecer a situação. Mesmo quando vocês decidiram paralisar as atividades em 2001, também não houve nenhum comentário falando sobre o que havia acontecido atrás dos bastidores. Você sentiu vontade de contar aos fãs o que aconteceu na época no ano em que comemorariam os 20 anos da banda?

Mana: Sim, eu senti uma grande vontade de contar. Na época do incidente, o Gackt fez vários comentários para o público, deu entrevistas e até chegou a publicar um livro, então o resto do MALICE MIZER acabou ficando em uma posição desvantajosa. Bom, na época nós não falamos nada, então muitas informações foram omitidas e por isso houve alguns desentendimentos. De qualquer maneira, não era minha intenção deixar que esses mal-entendidos continuassem se arrastando por anos, então eu pensei que o vigésimo aniversário da banda seria uma boa época para que nós pudessemos deixar esses acontecimentos do passado para trás e nós reunirmos todos novamente no palco, como artistas.

-Juntamente com o Gackt.

Mana: Realmente, com o passar do tempo os nossos sentimentos vão se modificando. No décimo aniversário da banda, tudo ao redor estava caótico, mas 10 anos depois, no vigésimo aniversário, a mágoa que eu carregava no coração foi se dissipando. Afinal de contas, eu sempre reconheci que o Gackt enquanto artista do MALICE MIZER era dono de um grande talento. Foi depois que ele entrou para o grupo que nossas perfomances se tornaram mais teatrais e as apresentações também se tornaram mais agradavéis de se assistir.

-Então você entrou em contato com o Gackt?

Mana: Sim, juntei toda minha determinação e decidi ligar para ele. Depois que o Gackt desapareceu e voltou dizendo que sairia da banda, eu nunca mais entrei em contato com ele. Aparentemente, a imagem que as pessoas têm é que o MALICE MIZER nunca mais voltou a ativa porque eu, o líder da banda, nunca perdoei o Gackt pelo que ele fez. (sorriso amarelo)

-De vez em quando havia reportagens falando isso nas revistas de fofocas.

Mana: Mas eu acho que existem algumas pessoas que sabem o que é verdade e o que é mentira. Na época do incidente do Gackt, algumas revistas de música chegaram a nos entrevistar e perguntar o que nós achávamos da situação...

-É verdade. Também me lembro que houve várias coisas que vocês não puderam falar por causa da situação e coisas que vocês acharam melhor não comentar... Mas depois de tudo, você ainda sabia o contato do Gackt?

Mana: Não, eu não sabia. Muito antes de toda essa história de perdoar ou não perdoar, eu já não sentia vontade de entrar em contato... Então eu pesquisei muito, entrei em contato com várias pessoas e finalmente consegui telefonar para ele.

-Quando foi que você ligou para ele?

Mana: Foi em 2011, um ano antes do aniversário de 20 anos. No fim das contas nós não conseguimos realizar o show, mas a ideia era realizar uma apresentação comemorativa dos 20 anos da banda e nós começamos a nos movimentar para tentar fazer isso acontecer. Eu me encontrei com o Gackt e até reuni os membros da banda para uma confraternização.

-Então vocês planejavam fazer o show e começaram os preparativos bem antes. Que tipo de ideia vocês tinham para o show de 20 anos da banda?

Mana: Na realidade, na época do show do Yokohama Arena (último show do Gackt com a banda), nós tinhamos um plano. Depois do show do Yokohama Arena, a ideia era fazer alguns shows e por fim uma apresentação no Tokyo Dome. Nós já estávamos até definindo as datas do show no Tokyo Dome quando aconteceu o incidente do Gackt e esse planejamento foi cancelado. Então nós nos reunimos e decidimos que iriamos comemorar o vigésimo aniversário da banda no Tokyo Dome. Fizemos reuniões não só com os membros da banda mas com os staffs também e já estávamos com um plano concreto em ação. Estava tudo indo conforme o planejado... Mas bem, aconteceram coisas depois...

-O planejamento foi cancelado.

Mana: Aparentemente o Gackt teve alguns problemas e por causa disso não poderia mais participar. Não havia mais nada que pudéssemos fazer, então deixamos o vigésimo aniversário passar em branco. Mas depois desse aniversário, a próxima grande data comemorativa seria o aniversário de 30 anos, mas aí já seria um tempo muito longo, não é? Honestamente, nem mesmo eu sei como as coisas estarão daqui a 5 anos. Então, aproveitando que o aniversário de 25 anos se aproximava, eu decidi fazer um evento comemorativo do MALICE MIZER. Não é um revival da banda e não será igual ao que nós haviamos pensando na época do 20º aniversário. Será um show de aniversário em comemoração aos 25 anos da banda, o “MALICE MIZER 25th Anniversary Special” no evento “Deep Sanctuary” que é organizado pelo Moi dix Mois. Para fazer os vocais, eu convidei os roadies que nós acompanhavam no tempo em que a banda era ativa.

-Esse show é quase um milagre se formos pensar que ele só será possível porque muitas pessoas que estavam envolvidas com a banda continuam ativas no meio musical, até mesmo aqueles que serão guest vocal no dia.

Mana: É verdade. Na realidade nós entramos em contato com todos os ex-integrantes e roadies que estavam envolvidos com o MALICE MIZER e perguntamos se eles não poderiam participar. Como seria um evento comemorativo da banda, achei que o mais certo seria falar com todos. Fora isso, teve algumas pessoas com quem eu não tive como entrar em contato. No caso da bateria, eu pedi ao Sakura (da banda ZIGZO e outros) para tocar. Foi ele quem ensinou bateria ao Kami. Eu e o Kozi em particular dividimos a tarefa de ligar para todos que tinham ligação com a banda. Quando eu fui falar com o KAMIJO e o Hitomi, eles ficaram muito contentes e me disseram que seria uma honra participar. Com isso eu sinto que finalmente vou conseguir deixar algumas coisas esclarecidas para todos.

-Eu assisti ao seu show de aniversário em março desse ano e fiquei com a impressão que muitos fãs do Moi dix Mois são fãs da época do MALICE MIZER. Os seus fãs são extremamente apaixonados e devotados e fiquei pensando o quão incrível é você ter mantido a motivação dos seus fãs por mais de 20 anos. Qual foi o segredo para você ter mantido seus fãs por tanto tempo?

Mana: Creio que foi porque eu não mudei em nada, não é? Provavelmente, as coisas que eu falo hoje em dia e até minha maquiagem, nada mudou muito do que era antes. Estou apenas sendo eu mesmo. Imagino que meus fãs se identificam com isso.

-Mesmo assim, nos dias de hoje há sempre uma nova febre ou moda aparecendo. Não há nada de novo pelo qual você seja influenciado? Você nunca pensou em fazer algo novo ou mudar algo na forma como você se apresenta?

Mana: Não. Eu nunca nem mesmo fiz algum show na vida usando maquiagem leve.

-Mas, você é do tipo que quando acha algo interessante, quer logo experimentar, não é? Na revista de música que eu trabalhava antigamente, lembro que nós fizemos um ensaio onde você vestiu uma jaqueta de motoqueiro e montava numa moto, além de outro no qual você se vestiu como uma criança na pré-escola e tirou fotos junto com algumas crianças do jardim de infância. Nós realmente fizemos várias coisas diferentes.

Mana: Eu tenho uma vontade muito forte em fazer coisas relacionadas à europa medieval e ao gótico, mas na realidade, sou o tipo de pessoa que se adapta conforme a situação pede.

-Eu bem sei disso. (risos)

Mana: Isso é porque na verdade eu quero sempre poder surpreender meus fãs. Eu estou sempre disposto a experimentar outras coisas. Por causa disso, há poucas coisas que eu realmente não concorde em fazer.

-Qual seria então a única coisa da qual você não abriria mão e não faria, mesmo que tivessse que mudar todo o resto?

Mana: Minha música. Eu posso mudar qualquer coisa menos a minha música, uma vez que o tipo de música que eu faço tem sido o mesmo há 25 anos.

-No Moi dix Mois sua guitarra tem um som mais voltado para o rock, mas a base dela é a mesma do MALICE MIZER?

Mana: Os acordes e os arranjos das músicas do Moi dix Mois não variam muito das do MALICE MIZER. Esse é o tipo de música que eu pretendo fazer, então estou determinado a continuar com esse estilo seja o que for. Talvez eu consiga ser flexível em outros aspectos porque eu não quero ceder nesse?

-Você não desiste nem cede quando é algo que você quer.

Mana: Mas ao mesmo tempo, eu também não pretendo mudar a minha imagem visual. Para mim não faz sentido se eu não puder mesclar a música aos visuais.

-Acho que é por causa disso que não há nenhuma estranheza em voltar para o MALICE MIZER depois de 10 anos. É incrível como você ainda é capaz de fazer a mesma coisa que você fazia há 25 anos atrás sem mudar em nada. Eu não sei como vai ser daqui em diante, mas eu adoraria ver o show de aniversário de 30 anos da banda.

Mana: Isso nós vamos ter que ver ainda. (sorriso amarelo)

-Analisando a sua vida como membro de uma banda, além do fato dos seus fãs terem te acompanhado durante todos esses anos sem desistir, quais são os momentos que te fazem pensar que você é feliz?

Mana: A minha vida como músico parece mais uma sucessão de acidentes, não é? Quando eu penso nisso, eu acho incrível que eu tenha conseguido me manter na ativa até agora. Só não sei se dá para chamar isso de felicidade. Afinal de contas, houve muitas trocas de vocalista (sorriso amarelo). Geralmente a maior parte das bandas costuma acabar quando o vocalista saí, não é mesmo?

-Quantos vocalistas suas bandas já tiveram?

Mana: No MALICE MIZER foram o TETSU, Gackt e o Klaha. Mas antes do Klaha entrar, eu discretamente gravei os vocais para o single “Saikai no Chi to Bara” (risos). No Moi dix Mois foram o Juka e o Seth. Dizem que há altos e baixos em qualquer banda, mas as minhas parecem ter mais baixos que altos (sorriso amarelo). Mas todos os vocalistas com quem eu já me apresentei colaboraram muito para cada banda, então eu sou grato.

-Depois de ouvir isso eu penso ainda mais que o motivo pelo qual você tem tantos fãs é por causa que nem você nem o mundo que você criou tem mudado até agora.

Mana: O tipo de música que eu quero criar e a a visão de mundo que eu quero expressar estão bem firmes dentro de mim e isso jamais vai mudar. Eu quero continuar protegendo esse mundo, por isso não há mais ninguém no meu mundo além de mim. De agora em diante, eu vou continuar protegendo a minha música e o mundo que eu criei, por isso eu gostaria que as pessoas me acompanhassem.